expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Conto em Versos

Porque os motoristas odeiam ter que respeitar pedestres

Está tão quente
Mas tão quente
Insuportavelmente quente
Que os camelos não agüentaram
Sentaram suas duas quentes e peludas nádegas
No meio da rua
Na faixa de pedestres, claro
Porque camelos são bichos polidos

E disseram aos pilotos beduínos
“Daqui nós não saímos
De jeito nenhum
Está quente demais
E o estatuto internacional de respeito aos direitos dos camelos
Especifica que acima dos 40ºC
Camelos urbanos podem paralisar suas atividades
Portanto, irmãos camelos
Unamo-nos!
Vamos protestar contra a exploração dos nossos serviços!”

Quando os dromedários viram os camelos
Sentiram-se no prejuízo
Afinal, o estatuto dos camelos
E o estatuto dos dromedários
È o mesmo
Quer dizer
Quase o mesmo
Os dromedários só têm direito a metade dos direitos
Porque tem a metade do número de covas
“Não seja por isso,
Irmãos dromedários!
Vamos aderir à greve dos camelos
Mas, dada nossa situação desfavorecida pela metade
Sentemo-nos com apenas uma nádega!”

E lá se foram os dromedários
Sentarem-se sobre a faixa de pedestres
Apoiados apenas sobre uma nádega
Nessa posição esdrúxula ficaram
E o número de grevistas aumentou
E o trânsito parou.

Os motoristas
Inconformados
Suados
Bufando
Gritando ao celular
Atrasados para as reuniões
Para os encontros com amantes
Para a viagem
Para o jantar
Para toda espécie de evento que não conta
Com uma greve de camelos e dromedários
Que paralisa as ruas.

A polícia chegou
Os bombeiros chegaram
Logo o jato de água potente
Tentava afugentar os animais
Mas eles gostaram do tal jato
Tamanho era o fervor que incandescia o asfalto
O jato era refresco
Um incentivo à greve
É certo que os dromedários
Já haviam trocado a nádega em que se apoiavam
Começavam a cansar

Mas enquanto eles não cansam
Como tirar os animais dali?
Isso atrapalha a saúde da cidade
Atravanca o tráfego
Quantos problemas!
A polícia não podia apelar para a violência
Porque por mais que fossem incômodos
Os camelos e dromedários estavam
Amparados pelo tal estatuto internacional de respeito aos direitos
O jeito era esperar a segunda nádega dos dromedários
Cansar.

Qual não foi o espanto
Dos motoristas bloqueados
Ao ver as dromedárias trazendo
Almofadinhas?
E limonadas!
E guarda-sóis!
A faixa de pedestres se tornou
Um oásis no meio da rua
O éden dos animais do deserto.

Mas alguém está desaparecido nesta história
Onde estão os beduínos pilotos?
Talvez eles possam resolver o problema
Dos motoristas impedidos de passar
Beduínos?
Beduínos?
Onde vocês estão?
Alguém os viu lá longe
Muito longe
Cansados de esperar,
Compraram patinetes motorizados
E seguiram seu rumo
Os patinetes não consomem água
Não fedem
E não são protegidos por um estatuto
Os pilotos beduínos saíram no lucro.

Já anoitece
E a temperatura já começa a cair
O termômetro já está abaixo dos 40ºC
Acaba a greve dos camelos e dromedários
Os guarda-sóis são desmontados
Os copos de limonada são recolhidos
As almofadinhas também
A caravana parte rumo à cidade mais próxima
Para organizar outra greve
E sair no jornal
Agora os camelos e os dromedários
Principalmente as dromedárias
Querem virar celebridade

E os motoristas
Que não conseguiram passar
Pela faixa de pedestres
Antes do anoitecer
Vão dizer em casa
Que uma miragem
Não os permitiu passar
E as esposas
E os pais
E os chefes
E as amantes
E os namorados
Vão entrar em greve
E estarão protegidos pelo estatuto internacional de respeito aos direitos
Dos que esperam alguém.

Obs: Os cactos não estavam presentes porque foram ao palácio da alvorada exigir um aumento salarial proporcional ao aumento do custo de vida na cidade

Um comentário:

  1. Lucasmente fantásticamente incrivelmente indizivelmente uma desmesura de genialidade.

    ResponderExcluir