expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>
Mostrando postagens com marcador Rafalândia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rafalândia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de junho de 2011

fome.

das suas pernas


dos seus braços


dos seus sorrisos


dos seus arranhões


das suas mordidas


dos seus gemidos


do seu prazer


de você.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Com o que não acostumamos? [conto]

Fiz o café pra você. Arrumei a mesa com tudo o que você gosta. Depois arrumei a cama. Lavei a roupa, esperei secar e a passei. Depois me arrumei e fui trabalhar. Peguei o metrô. Cheguei na empresa e repeti a mesma rotina de sempre. Ouvi a todos os descontentes descontarem sua insatisfação em mim. Almocei no seu restaurante favorito, aquele com a atendente oriental que sempre nos olha desconfiada quando vamos pagar com cartão. Voltei pro trabalho e mais reclamação. Sai e peguei o metrô, agora lotado. Todo aquele suor, aquela proximidade, incomodaram-me. Depois de algum tempo, desci e me livrei daqueles bípedes. Passei em frente àquela loja de doces que você tanto gosta. Comprei a torta de frango que você tanto ama. O cheiro me trouxe lembranças da primeira vez que fomos ali, lembranças do nosso primeiro beijo. Sorri, aquele sorriso que você sempre disse que era tão seu e tanto te fazia bem. Corri, então, para casa, afinal, começou a chover. A chuva, como você sabe, abriu-me o sorriso. O vento frio tocava-me os cabelos e a pele, arranhando-a. Ah, como era bom! Aquela boa e velha sensação de liberdade, de satisfação, de que a vida vale a pena, de que o amor é eterno e a paz interior jamais foi algo irreal. Corri mais. Precisava chegar logo, precisava te encontrar, te abraçar, te sentir. Poucos minutos dali, cheguei. Abri a porta, entrei e tranquei-a. Joguei as chaves ao lado da TV e deixei a torta sobre a mesa da sala, a mesma em que você sempre depositava sua bolsa quando chegava da faculdade. Tomei um banho rápido, vesti-me com o pijama preto que você me comprou no nosso segundo aniversário de namoro. Sentei-me no sofá, liguei a TV e assisti à nossa fita de noivado enquanto comia a torta. Terminei-a, desliguei o vídeo e fui me deitar. O café continuava quente e a mesa, intacta.
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo busco
Inamovível, e te respiro inteiro.
(...)

Hilda Hilst

terça-feira, 3 de maio de 2011

Em obras.


Existe um verdadeiro abismo entre o mundo de fora e o mundo aqui de dentro.

Entro nesse mundo de fora todos os dias, mas dificilmente esse mundo ou parte dele entra no meu mundo aqui de dentro. Eu poderia muito bem me abrir a visitações, mas nesse mundo aqui de dentro não existem guias ou mapas para facilitar a orientação.

E não quero que as pessoas se percam nesse mundo aqui de dentro, da mesma forma como eu me perco nesse mundo ai de fora. E foi justamente esse não querer que as pessoas se percam, que só me fez perder as pessoas. Eu perdi o momento, perdi o sono...

Eu me perdi.

Eu perdi até mesmo a razão, aquela mesma razão que me fez errar tentando fazer as coisas certas. Eu perdi a chance de habitar dois mundos e ser habitado também. Eu só não perdi a esperança de terminar essa ponte que eu construo todos os dias entre um mundo e outro. Talvez um dia eu possa receber visitas com mais freqüência, talvez exista do outro lado alguém construindo uma ponte para chegar até aqui também. Até lá, declaro-me: em obras.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Você consegue sentir?


Quando seu único amigo é um cachorro
















Consegue?






























E agora? Consegue?












Olha esta. Ainda Sente?

















Você consegue sentir algo?















Consegue, ainda sentir-se parte disto?

"Durante a guerra aprendi uma verdade que geralmente preferimos não enunciar: que a coisa mais brutal da crueldade é aquela que desumaniza suas vítimas antes de destruí-las. E que a luta mais árdaus de todas é permanecer humana em condições desumanas"

Janina Bauman, 1985. Inverno na manhã. Uma jovem no Gueto de Varsóvia.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Modismos II



"Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de baptismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camisola, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu ténis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem — anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registadas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso dos outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
Da sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
Ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou — vê lá — anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objecto pulsante mas objecto
que se oferece como signo de outros
objectos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome rectifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente."


Carlos Drummond de Andrade, 1984.

quarta-feira, 9 de março de 2011

IRÁ


Quando a mascara cAIR

E despertar o inimigo

Quando o indefeso e o ARIsco

Tiver seu espaço invadido

Se o RAIar do sol

Escurece o seu dia

Se um pequeno RIAcho

Afogar sua fantasia

Não haverá alerta

Ou aquém se alIAR

Faltará a palavra que possa rimar

Um pequeno instinto terá surgido

A IRÁ o terá consumido

E tudo ao redor estará destruído.

domingo, 6 de março de 2011

Modismos.


Assim eles marcham,
Seguindo o da frente,
São teleguiados,
No meio da gente.
Assim eles seguem,
E aos poucos se cegam,
Não vendo um palmo,
De tudo que os cercam.
Assim, de repente,
A vida é refeita,
E as roupas de ontem,
Não são mais aceitas.
Em passos ditados,
Seguem alienados,
Fazendo da dor,
Seu próprio legado.
Eles são assim,
Mas não são o que são,
Eles não têm culpa,
Têm um coração.
Querem ser alguém,
Querem ser aceitos.
Não os julguem errado,
Olhem para si mesmos.

sábado, 5 de março de 2011

brasil


"O Zé Pereira chegou de caravela
E perguntou pro guarani de mata virgem
-Sois cristão?
-Não, Sou bravo, sou forte sou filho da morte
Tetetê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá de longe a onça resmungava Uu! Ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
-Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o carnaval"

(Oswald de Andrade - brasil)
(Portinari - pau brasil)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Pecador.


A espera da fogueira acolhedora,
Da chibata ensangüentada,
Da água que me beatifica,
Aguardo o destino dos fortes
O gás de éter, a morte.

A perfeição que me é imposta
Da utopia coletiva
É uma herança da moral
Que muito fora corrompida

E já não cabe a redenção
Dos que se dobram por perdão
Aceito aqui o fardo amargo
De ser a imagem em difusão

O erro, a culpa e a punição.
Hoje poderão vir de qualquer parte,
Menos de mim...
E que venha o ódio alheio acompanhado da cega incompreensão
Para que eu possa sentir pena ao invés de medo

Nada que façam com meu corpo atingirá minha alma.
O que me difere e me torna pleno
É a capacidade de viver minhas verdades
E aos que gozam da perfeição inumana
Eu grito no alto de minha voz,
Se amar for pecado, declaro-me: um Pecador!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lembra??

Você se lembra de como costumava ser?
De quando as guerras eram de travesseiros,
E dias de chuva não eram dias perdidos, eram apenas dias molhados.
Você deve se lembrar que houve um tempo em que às segundas-feiras não eram tão mal vistas.
Que problema era tudo aquilo que seus pais poderiam resolver ou descobrir.
E certamente se lembra de perguntar quando ninguém estava por perto:
“Porque as pessoas não podem simplesmente amar uma as outras?”
Desaprendemos a rir de nós mesmos ao passo que aprendermos a rir dos outros com uma facilidade...
Você se lembra de quantas estrelas você já foi capaz de contar?
Da sensação desconfortável de já ter contado a mesma estrela mais de uma vez
E da convicção inabalável de ter conseguido contar todas?
Você se lembra de quando salvar o mundo era possível?
E você aguardava ansioso apenas crescer para poder por todos os seus planos em prática?
Às vezes fica difícil saber o que acontece entre os anos e você,
Pois quando os espelhos de hoje não refletem os sonhos de ontem,
A memória é aquela que transforma os mais belos castelos em prisão.
Você acha que lembra quando na verdade você nunca esquece,
E um dia quando todas as suas perguntas finalmente são respondidas,
Você cresce com o mundo e as lembranças crescem em você.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A busca ou A espera?

''[...me responda você, que me adivinha a alma.]''


...



"A inspiração é fugaz, violenta.
Qualquer empecilho a pertuba e mesmo emudece''


(Mário de Andrade)


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não posso mais transpassar a redoma que um dia vivi.
Dentro dela me infurnei,
E se alguns segundos eu me desencontrei,
Foram nestes que me decidi.

Em tais decisões encontrei resposta claras,
Das quais sequer imaginei encontrar,
Soaram pesadas, frágeis e raras,
E sei que à elas posso me entregar.

Decidi que a infelicidade que me causava estafa,
Estagnava as etapas que deveria viver meu coração.
E a todo momento em que o sufoco me abafava,
Deveria sorrir, mesmo em contradição.

Não haveriam mais metas para a felicidade,
Pois ser feliz deveria ser lei.
Se estou desgastado com esta verdade,
Resgatarei a verdade que de fato eu sei.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

- saber.


Tempo, para que te quero?
Se for pra me prender enquanto estou solto,
E quando me solto, já estou preso.
É a liberdade o que eu preciso,
É a felicidade o que eu espero.

Entre tantos contratempos,
Os momentos são desencontros,
Entretanto, meus tormentos,
Entre pontos, são alentos
Que entregam meus encontros.

E liberdade, para que te quero?
Eu a quero pra deitar em seus ventos,
Despegar minha alma,
Entregar minha calma,
esquecer os sofrimentos.


Eu te quero pra ser livre,
Para caminhar até o enfim,
Não chegar ao meu fim,
Para sempre continuar;
Pois ser livre não é ter asas,
Mas sim saber voar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

É melhor não ver mais com a boca,
Não ouvir com os olhos,
Nem degustar com os ouvidos.
Melhor esquecer a verdade alheia,
Que nos fere a vida inteira,
Que não tem mais sentido.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Subversivo.

Sou metrificado por meus anseios,
Redirecionado a meus amores,
Extirpado por minhas dores,
Amarrado por meus receios.
Sou moldável à justiça,
Sondável à ignorância,
Próspero à discrepância,
Fértil à preguiça.

Meus amores são meus desejos,
Que são meus sonhos, e são vazios,
E são doces, e são frios;
De meus inúmeros gracejos.
Minhas vidas são contáveis,
De alegria, de vingança,
De paixão e perseverança,
Aos meus detalhes palpáveis.

Discreto, concreto e objetivo,
Existo apenas para dizer Adeus.

Eis a questão. (Liberdade #1)

"Liberdade, Igualdade e Fraternidade."





Para quem?


"L
iberdade é o espaço que a felicidade precisa."












domingo, 2 de janeiro de 2011

Não entendo.

Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não entendo. Não entender, de modo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito.

É uma benção estranha, como ter loucura sem ser, de fato, louco. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Estante.



Eu não sei por que te deixo na estante.
Ficar lá, empoeirado, embolado – esnobado. Mofo.
Na estante, fazendo companhia para os outros quadros,
dos que eu estou farto, esganiçado, cansado.
Dos que eu nem olho mais, você faz amizade, conversa -
Significam mais para você do que para mim.
Sua moldura está velha – cansei de admirar os arabescos na madeira.
Os desenhos não são mais bonitos,
não gosto mais do tom de sépia,
seus olhos tem o mesmo tom das demais fotografias.
Fique ali no canto, virado para a madeira, a parede.
A poeira será sua companhia – seu cônjuge.